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Mostrando postagens de outubro, 2015

Pelas veredas do Guimarães: Rosas Parte VII

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Explico ao senhor: andando por esse sertão do Guimarães, não sei se acredita na minha pessoa, mas, ora veja, encontrei rosas. Ah, eu sei que não é possível, mas “cada um só vê e entende as coisas dum seu modo”. “Porque, nos gerais, a mesma raça de borboletas, que em outras partes é trivial regular – cá cresce, vira muito maior, e com mais brilho, se sabe”. Mire veja: Sobre as histórias:  “A lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos, cada um com seu signo e sentimento, uns com os outros acho que nem não misturam. Contar seguido, alinhavado, só mesmo sendo as coisas de rasa importância. De cada vivimento que eu real tive, de alegria forte ou pesar, cada vez daquela hoje vejo que eu era como se fosse diferente pessoa... Assim eu acho, assim é que eu conto. O senhor é bondoso de me ouvir. Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras, de recente data. O senhor mesmo sabe.” “Para que referir tudo no narrar, por menos e menor?... Mesmo o que

Pelas veredas do Guimarães: Rosas Parte VI

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Explico ao senhor: andando por esse sertão do Guimarães, não sei se acredita na minha pessoa, mas, ora, encontrei rosas. Ah, eu sei que não é possível, mas “cada um só vê e entende as coisas dum seu modo”. Mire veja: Sobre sentir: “Quem muito se evita, se convive.” “Artes que havia uma alegria. Alegria, é o justo.” “Amigo pra mim, é só isto: é a pessoa com quem a gente gosta de conversar, do igual a igual, desarmado. O de que um tira prazer de estar próximo. Só isto, quase; e todos os sacrifícios. Ou – amigo – é que a gente seja, mas sem precisar de saber o por quê é que é.” “Quis falar em coração fiel e sentidas coisas. Poetagem. Mas era o que eu sincero queria – como em falas de livros, o senhor sabe: bel-ver, bel-fazer e bel-amar.” “Confiança – o senhor sabe – não se tira das coisas feitas ou perfeitas: ela rodeia é o quente da pessoa.” “Eu vinha pensando, feito toda alegria em brados pede: pensando por prolongar. Com toda alegria, no mesmo do momento, abre saud

Pelas veredas do Guimarães: Rosas Parte V

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Explico ao senhor: andando por esse sertão do Guimarães, não sei se acredita na minha pessoa, mas, ora, encontrei rosas. Ah, eu sei que não é possível, mas “cada um só vê e entende as coisas dum seu modo”. Mire veja: Sobre pensar: “A lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos, cada um com seu signo e sentimento, uns com os outros acho que nem misturam. De cada vivimento que eu real tive, de alegria forte ou pesar, cada vez daquela hoje vejo que eu era como se fosse diferente pessoa.” “Só que uma pergunta, em hora, às vezes, clareia razão de paz.”  “De primeiro, eu fazia e mexia, e pensar não pensava. Não possuía os prazos... quem mói no asp’ro, não fantasêia. Mas agora, feita a folga que me vem, e sem pequenos dessossegos, estou de range rede. E me inventei neste gosto, de especular ideia.” “Vi muitas nuvens”. “Tive de.” “Sou só um sertanejo, nessas altas idéias navego mal... Inveja minha pura é de uns conforme o senhor, com toda leitura e suma doutrina

Pelas veredas do Guimarães: Rosas Parte IV

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Explico ao senhor: andando por esse sertão do Guimarães, não sei se acredita na minha pessoa, mas, ora veja, encontrei rosas. Ah, eu sei que não é possível, mas “cada um só vê e entende as coisas dum seu modo”. “Porque, nos gerais, a mesma raça de borboletas, que em outras partes é trivial regular – cá cresce, vira muito maior, e com mais brilho, se sabe”. Mire veja: Sobre humanos: “Coração da gente – o escuro, escuros.” “Coração cresce de todo lado. Coração vige feito riacho colominhando por entre serras e varjas, matas e campinas. Coração mistura amores.” “De mim, toda mentira aceito. O senhor não é igual? Nós todos...” “A gente viemos do inferno... Duns lugares inferiores, tão monstro-medonhos, que Cristo mesmo lá só conseguiu aprofundar por um relance a graça de sua sustância alumiável... Que lá o prazer trivial de cada um é judiar dos outros, bom atormentar; e o calor e o frio mais perseguem; e até respirar custa dor; e nenhum sossego não se tem. Se creio? Acho pros

Pelas veredas do Guimarães: Rosas Parte III

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Explico ao senhor: andando por esse sertão do Guimarães, não sei se acredita na minha pessoa, mas, ora veja, encontrei rosas. Sobre viver: “Viver é negócio muito perigoso...”  “Uma coisa é pôr ideias arranjadas, outra é lidar com país de pessoas, de carne e sangue, de mil-e-tantas misérias... Tanta gente – dá susto se saber – e nenhum se sossega: todos nascendo, crescendo, se casando, querendo colocação de emprego, comida, saúde, riqueza, ser importante, querendo chuva e negócios bons...”  “O senhor sabe: o perigo que é viver...” “Viver nem não é muito perigoso?”  “Jagunço é isso. Jagunço não se escabreia com perda nem derrota - quase que tudo para ele é igual. Nunca vi. Pra ele a vida já está assentada: comer, beber, apreciar mulher, brigar, e o fim final. E todo mundo não presume assim?” “O senhor deve de ficar prevenido: esse povo diverte por demais com a baboseira, dum traque de jumento formam tufão de ventania. Por gosto de rebuliço. Querem-porque-querem inventa

Pelas veredas do Guimarães: Rosas Parte II

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Explico ao senhor: andando por esse sertão do Guimarães, não sei se acredita na minha pessoa, mas, ora veja, encontrei rosas. Ah, eu sei que não é possível, mas “cada um só vê e entende as coisas dum seu modo”. “Porque, nos gerais, a mesma raça de borboletas, que em outras partes é trivial regular – cá cresce, vira muito maior, e com mais brilho, se sabe”. Mire veja: Sobre o sertão: “O senhor tolere, isto é o sertão... Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador; e onde criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do arrocho de autoridade.” “O sertão está em toda parte. Sertão. O senhor sabe: sertão é onde manda quem é forte, com as astúcias. Deus mesmo, quando vier, que venha armado! E bala é um pedacinhozinho de metal...” “Aqui não se tem convívio que instruir. Sertão. Sabe o senhor: sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte do que o poder do lugar.” “Remei vida solta. Sert

Pelas veredas do Guimarães: Rosas Parte I

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Explico ao senhor: andando por esse sertão do Guimarães, não sei se acredita na minha pessoa, mas, ora veja, encontrei rosas. Ah, eu sei que não é possível, mas “cada um só vê e entende as coisas dum seu modo”. “Porque, nos gerais, a mesma raça de borboletas, que em outras partes é trivial regular – cá cresce, vira muito maior, e com mais brilho, se sabe”. Mire veja: Sobre Deus: “Deus espera essa gastança. Moço!: Deus é paciência. O contrário, é o diabo. Se gasteja.” “Deus não se comparece com refe, não arrocha o regulamento. Pra que? Deixa: bobo com bobo – um dia, algum estala e aprende: esperta. Só que, às vezes, por mais auxiliar, Deus espalha, no meio, um pingado de pimenta...” “E, outra coisa: o diabo é às brutas; mas Deus é traiçoeiro! Ah, uma beleza de traiçoeiro – dá gosto! A força dele, quando quer – moço! – me dá o medo, pavor! Deus vem vindo: ninguém não vê. Ele faz é na lei do mansinho – assim é o milagre. E Deus ataca bonito, se divertindo, se economiza.” “S