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Mostrando postagens de maio, 2020

Crônicas da criação VI e VII

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  Chegamos finalmente ao sétimo dia. Olha que dá até pra descansar um pouco. Mafalda e Naum estão realmente se entendendo, ao estilo dos gatos. Já o povo, muito religioso, vem todo dia ler as crônicas e me cobra quando vai sair a próxima. Reclamam que tinham que ser sete, pra ficar igual à Bíblia, se não dá azar. O que é uma heresia, né, gente? Uns profetizam que a história terá um final feliz. Outros perguntam como é que eu vou fazer quando eles tiverem filhotes. Olha procevê: conseguem pensar nisso. Não querem que eu descanse. Pois vou dizer uma coisa. Me contento com um final feliz ao fim do dia. Mafalda e Naum já conseguem sentir o cheiro do outro pela casa, podem se olhar e passear pelos cômodos sem a minha sombra. Até conseguem se tocar em alguma brincadeira. Não posso dizer que não há estresse. Mas quase vejo a paz. A bem da verdade, acho que sou eu a mais estressada. Porque é assim, ó: preciso deixar que eles sejam felinos e (o desejo é meu) em boa convivência. Comigo

Crônicas da criação III, IV e V

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  Ué... Três dias numa crônica só? É, não tem aquela parte de que no sétimo descansou? Então, não vejo a hora. Mas, tirando o cansaço, há alguns avanços. À medida que os dias passam nesse tipo de adaptação, a tática é introduzir gradativamente a visualização, quando surgem boas oportunidades. No nosso caso, o contato visual ocorreu sem bons resultados no começo de tudo, então precisávamos acertar. Mafalda, a cada novo dia, se apercebia mais e mais dos cheiros do gatinho pela casa toda e desconfiava de que algo estava diferente. Tinha alguma presença estranha na jogada, sentida em odores a que se acostumou devagarinho. Então, no quarto dia, deixei que ela observasse o gato dormindo à distância. A bufada reapareceu, um grunhido estranho e o pelo eriçado. Ela estava visivelmente estressada. Entre ela e o gato sonolento, fiquei de cócoras conversando. O google disse que é bom conversar. Me senti mais normal. Acho mesmo que os gatos respondem quando falo. E funcionou. Ela acalmava

Crônicas da criação II

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Acessei os arquivos do google sobre adaptação de gatos. Fiquei confusa com tanta dica. Melhor era ativar a tecla bom senso diante do que estava armado. Entendi que precisava separar os gatos. Cada qual no seu quadrado. Mafalda já tinha o dela, mais de um. Agora precisava delimitar o espaço possível para o novo amigo. Acordei cedo e organizei um ambiente tranquilo pra ele. Restrito, como cabia, no banheiro social. Um espaço pequeno, pouco frequentado pela anfitriã. A dica melhor do google: eles não podem se ver nessa fase. É preciso deixar que sintam apenas os novos cheiros um do outro para, quem sabe, se acostumarem a uma nova presença. Muito bem. Lá estava eu, malabaristicamente impedindo que os dois se vissem. Enquanto Mafalda dormia em um dos cômodos, eu fechava a bichinha lá dentro e soltava o gato para conhecer o ambiente aos poucos. Tinha medo de pisar nele, tão novinho. Mas ele tem desenvoltura e andava bem pela casa, vivenciando os cheiros e os meus tratos, numa miação,

Crônicas da criação I

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Adotei um novo gatinho. Ronrono essa ideia há um tempo. Com desistências frequentes. Mafalda, minha gata, está comigo há quase três anos. A gente vive bem assim. Nem sempre tão bem, é verdade. Talvez fosse bom um outro gato. Mas tentativas aqui e ali não vingaram, sem firmeza de decisão. Em tempos de distanciamento social, nós duas andamos grudadas uma na outra, e eu, nunca tão caseira. Se eu preciso sair, ela sente muito. Então, resolvi. Sem correr atrás, o gato chegou pra mim nas redes sociais. Alguém disse que estava disponível para adoção. E aí foi demais quando eu enxerguei o bichinho. E aí não tinha mais como dizer que eu não tinha visto. E aí gostei. Pronto. Mais rápido do que eu e Mafalda imaginávamos, pensando enrolar nessa solitude comum, um novo amigo chegou. Achei que a adaptação fosse mais fácil e não me preparei bem. Transitar de uma configuração já estabelecida para uma nova não é tão simples assim. Para os felinos, principalmente. Há territórios apenas deles e qua

Colheita

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  Campos de trigo balançam é a sua cabeleira de ouro nos primeiros dias de maio ao vento de sentimentos que persistem em trazer o som de um riso tímido. Vales se cobrem de trigo exultam e cantam de alegria quando a memória traz os movimentos de suas madeixas aos embalos de meu colo de mãe admirada. Planícies florescem em trigo espigas imaginárias no tempo ao som de seus dedos em cordas dueto com tons amarelo de arco-íris em cascata jorrando de sua cabeça áurea e florida. Chão se esvazia do trigo colhido a dedo deixa brancas colinas ausentes de sua presença topázio cristais amarelos transparentes topo de um corpo esguio. Restam sementes ardem os seios que amamentaram seu templo ainda delicado e sem pelos apenas penugens douradas brotando na fronte e a imagem do trigo ao vento é ímã ao meu pensamento. 18/04/2012