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Mostrando postagens de abril, 2015

Festa da insignificância

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Este é o mais novo livro de Milan Kundera, lançado no ano passado no Brasil. Aguardado há tempos, uma vez que da publicação de seu último romance até este, criou-se um longo hiato esperançoso para a crítica e também para os leitores assíduos do autor. Dele, infelizmente só li há algum tempo “A Insustentável Leveza do Ser”, a que me reporto como das leituras mais vivas na memória. “Festa da Insignificância”, devorei agora como indicação de um clube de leitura do qual faço parte, mas já andava de olho nele desde seu lançamento. A leitura e a discussão em grupo foram bem proveitosas. O livro é de ficção, mas resvala por reflexões inusitadas no campo da História, da Filosofia e de outras áreas das Ciências Humanas. Dotado de humor e ironia que dessacraliza os ícones da Modernidade, sejam as ideologias políticas, os referenciais da Arte, os heróis da História, as verdades religiosamente institucionalizadas e vários valores falsificados que regem a vida em sociedade, a narrati

A velha história do peixinho que morreu afogado

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Marilia Pirillo inspira-se em conto popular, também narrado por Mário Quintana e Monteiro Lobato, para trazer aos jovens leitores “A Velha história do peixinho que morreu afogado”. A autora recria de forma muito feliz a velha história de um peixinho que depois de retirado do rio por um homem e desfrutando de seu afeto e presença, ao voltar ao rio, morre afogado. O texto usa de humor e ironia, ao transportar a antiga narrativa para o contexto de vida urbana. A história se insere no espaço de uma grande cidade, onde flui o ritmo frenético de atividades diárias e rotineiras, a convivência com os desagravos ambientais e tudo que compõe as condições de existência nos grandes centros na contemporaneidade. O lúdico e o insólito do texto se misturam aos espaços reais da selva de pedra, igualmente bem captados pelos traços e cores das ilustrações. O texto verbal se realiza em interação harmoniosa com as ilustrações criativas de Guazelli, que são parte de um cuidadoso projeto gráfico

Orie

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  Orie é o título e o nome da personagem principal do livro de Lúcia Hiratsuka, por empréstimo do nome de sua avó, uma imigrante japonesa que veio para o Brasil aos 20 anos de idade. A narrativa é colhida das histórias contadas por essa avó, de origem camponesa, que morou às margens de um rio e sobre suas águas atravessava para chegar ao povoado onde a família realizava negócios. O enredo fala disso, evidenciando o olhar da personagem criança, olhar observador que a tudo perscruta poeticamente. O texto é escrito em frases simples, diretas, curtas, no presente do indicativo, sem diálogos entre os personagens e com constantes repetições verbais que reproduzem o movimento do rio, do vento, do barco, do remo e das percepções da menina. A viagem sobre o barco e o rio até aportar na cidade é também metáfora do curso de crescimento da menina na relação aconchegante com uma família que lhe permite crescer e conquistar gradativamente a autonomia. O belíssimo projeto gráfico em

A caminho do mar

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Terceiro CD de Rubão Lima, com composições exclusivas do artista e produção de Márcio Lucena e do próprio Rubão, o álbum traz como carro chefe o reggae , sua linguagem de escolha, marca de identidade do trabalho do compositor e intérprete maranhense, que vive atualmente em Brasília. Com um projeto gráfico primoroso, além das canções gostosamente carreggaedas , o CD traz músicas em outros ritmos do nordeste e norte do país. Nelas, percebe-se a forte influência de nomes como os de Dominguinhos, Djavan, Gilberto Gil e outros.   Como não pode deixar de ser, meu foco principal acaba sendo as letras das canções, que tratam de problemas sócio-culturais da sociedade brasileira, como os desafios da infância nas ruas, o preconceito racial, a intolerância, os graves problemas ambientais da Amazônia e mais. Sobretudo é na voz de reggaero, que aborda essas questões. Mas, na segunda metade do CD, quando as composições dialogam com outras facetas da MPB e apresentam letras mais líricas, abo

A caixa de Klara

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Klara Meindert é uma professora muito querida por seus alunos. Amiga e criativa, tem o dom de transformar cada aula em uma aventura especial. Mas ela está doente e não viverá muito tempo, e isso é um choque para as crianças. Aos poucos, elas se fortalecem para enfrentar a situação com o carinho que sentem pela professora e a memória de tudo que viveram juntos. Ao longo do livro, principalmente por meio das experiências vivenciadas por Julius, um dos alunos de Klara, o leitor se depara com a realidade da morte e suas implicações sociais, religiosas e filosóficas, bem como com os dramas humanos de quem, por motivos e situações diversas, precisa lidar com esse grave fato da existência. O grande diferencial do livro tem a ver com a ótica infantil de interpretação dos fatos em torno da morte, desde a impossibilidade de revertê-la, até o lidar com os significados e sentimentos envolvidos no processo de separação. No caso da história em questão, um luto antecipado pelo longo tempo de e

Je vole

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https://www.youtube.com/watch?v=UdFrMMX5AIA Je vole é o título da canção de Michel Sardou, que marca várias cenas do filme francês “A família Bélier” . O drama-comédia é dirigido por Eric Lartigau e trata de uma situação recorrente em produções sobre conflitos familiares de adolescentes. Uma garota da zona rural francesa se descobre, sob a influência de um professor de música, com um talento especial para cantar, que pode mudar radicalmente sua história junto à família, levando-a a ingressar em um novo estilo de vida. Seria inexpressivo se estivesse reduzido a esse enredo. No entanto, a protagonista é a única falante da família. Os outros membros são surdos e mudos. Ela é a porta-voz do grupo, inclusive nos negócios agropecuários da família, mediando a relação dos pais com a comunidade rural onde estão inseridos. Em meio à descoberta do talento pessoal e do prazer que isso lhe desperta, Paula (Louane Emera)  se percebe envolta no conflito de caminhar em direção oposta aos