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Mostrando postagens de 2019

um certo joão

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  foi à espera de certo João certo, ao certo, mas ser todo dúvida no útero de um pai a gravidez anunciada gera o tempo do medo placenta nutrindo busca de concretude semente temporã, de ventre em aridez e estio no avançar da desesperança como oferecer incenso? como segredar poesia imerso em interrogações? a força do desejo esqueceu o intercurso da fé que gera a vida amorosamente apegou-se ao fórceps da vitória sobre a morte da insegurança economia do prazer profecia pariu silêncio mudez assustada quietude aprisionante na procura da certeza desesperou-se a alegria porque a alma talvezava gerando túmulos mas criação se fez um dia rompendo manhã interrompendo a voz hibernada em caverna perplexo sono invernal e você, menino, converteu primeiro o pai inaugurando batismos voz do que clama da morte para a vida FEMEAR/2014

cesto de junco

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deslizando o Nilo me vi pleno de destino dois seios maternos, duas margens de um rio projetos de vida divisores de águas vermelhas de um mar por onde ainda andei cajado e pastor no peito amor de rebanho e herança das terras de gósen, mãos de escravos cravos nas mãos, estalo das cordas de capatazes, lamento dos olhos peitos vorazes por ventre livre na mente, senhor, ciência e sina manjares inalando suores de meus irmãos um dia filho da filha de um poder terreno berço de ouro e saberes dominadores foi ao ver-me no espelho da cena do embate dos corpos daqueles em mim que divisei escolha acolhi o servo dei-lhe o domínio sobre senhor e jugo porque eu sou ali larguei capa e trono deixei haveres não reconhecidos sacudi do pé a poeira e o palácio riqueza distante tesouro estranho e valor a esmo fugi de quem não podia ser levei comigo apenas a mim mesmo FEMEAR/2014

a mão no tabuleiro

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abre os braços ao rés do tabuleiro sob as mãos o peso de toda história retalhos quadrados no quadro do madeiro revezam o branco e o preto da memória contradança acertos tropeços quase impensados pensadamente troca de passos, avanço de peças cerca ideias, discerne o inocente é tão belo e tão profundo o concerto o revés armado de parceria mão vazia com planos encobertos ensaia arte-visão em calmaria sonho do enlace de um lance final a corte em jogo de fina andança figura-fundo contraste formal opõe cores, não separa aliança melodia silente segreda partilhar e renova o compasso da vida sereno repouso onde a mão colocar o rei início de nova partida FEMEAR/2014

na ilha

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tanto tempo passou sem forma tecido imaginei um dia a linha que entrelaça, tanta a sina assim alcançaria? teço o dia a acalentar a lida sonhando a vida, desteço a noite. colho cores, realço sons o tear sempre a cada dia tanto vai e tanto vem, tanto as mãos não sabem calmaria. teço o dia a acalentar a lida sonhando a vida, desteço a noite. os tons se entrecruzam em mim suavizam   calor do dia texturas se entrefazem, tantas mas trabalho sem companhia. teço o dia a acalentar a lida sonhando a vida, desteço a noite. traço entremeios com o batente sempre a   lançadeira do dia lã e fio tecelão, tantos tecem riscos, bordam a via. t eço o dia a acalentar a lida sonhando a vida, desteço a noite. FEMEAR/2014

Canções do Exílio

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III   Como um sonho Retornar do cativeiro Sorte se instaura Riso contagia lábios Língua proclama alegria Soando um canto De euforia E livramento O céu se enche de estrelas Os campos de flores Os bosques de vida A vida de amores Estar em nossa terra Feito coisa grandiosa Como grande é Encher-se um rio no deserto Ou recolher muitos feixes Com mãos que um dia Semearam lágrimas De onde brotam sementes De novos sons A boca uma vez suspirou lamento Hoje traz contentamento Cantos de colheita Balançam galhos aqui e lá Nossa terra atrai primores Porque canta o sabiá Em cismar novas cantigas É dia ainda Vamos cantar. FEMEAR/2014.

Canções do exílio II

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II Pode-se fazer canção Em terra estrangeira? Pode a lira brotar Em cidade estranha? Será que há esperança De reviver a lembrança Que um passado visitou? Haverá um futuro Planos a mais Plenos de paz? É preciso guardar o hoje Construir um lugar Tempo de habitar Fazer chão Plantar jardim Comunhão colher Cultivar canção Exógena canção Exótica lira De vida no presente Pacientemente Mas haverá esperança E um futuro Planos de paz Avistar palmares Divisar palmeiras Onde cantem sabiás. In: FEMEAR/2014

Canções do exílio

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I Junto aos rios de nosso exílio Sentamos e choramos A falta de nossa terra Que pesava sobre o peito Nos salgueiros Penduramos instrumentos Tamareiras Esconderam nossos cantos Onde canta o sabiá? Não gorjeia, já não canta Também não pode voar Cantem, cantem Cantem-nos suas canções Alegrem nossos dias Com as canções de além-mar Como cantar Em terra estrangeira? Nosso céu tem mais estrelas Nossas várzeas têm mais flores Nossos bosques têm mais vida Nossa vida mais amores E assim à noite em cismas Choramos desprazer E saudade Permita Deus vivamos O tempo de ali estar Junto às palmeiras Onde canta o sabiá. In: FEMEAR/2014

diálogo com um amigo de jó

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jogando caxangá quem pode conter desgraças que tanto temo? quem pode medir o peso dos meus lamentos? quem pode entender  nuvens que estão no meu céu? quem pode espantar crocodilos dos meus sonhos? quem pode fazer menor a minha injustiça? que será de mim se Deus pensar em si? o que vou fazer com tamanho silêncio? guerreiro com guerreiro fazem zigue zigue zá In: FEMEAR/ 2014

Dignidade

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Sou ignorante Caminho sob o signo Do que é incógnito E minha cognição Não tem indignação Contra esse desígnio No mundo cognoscível É impossível designar Algo assim Tão magnético Ígneo E ao mesmo tempo Magnânimo Digno Agnus Dei In: FEMEAR/2014

lamentações

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deserta está a cidade viúva errante lágrima descalça pelas calçadas descaminhadas muro humilhado inclinado ao chão paira nuvem sobre a cidade encobre desabitados jardins desfaleceu o coreto foge a banda da praça cantando coisas de amor as trancas das casas limitam inseguros infância esconde ruas jovens cheiram pó das quinas dos becos esquinas há um silêncio berrando sitiando a cidade balas achadas ao vento alvos descêntricos acertam ruína destruição o olhar do poeta desfalece a   pesar tomba a memória o que pode dar esperança sobre a nuvem o azul rabisca nova manhã ainda que deserta está a cidade In: FEMEAR/2014
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as imperfeições de Deus ou recanto agostiniano Deus, quem é você? quem é você? o senhor é indizível esse é o seu defeito mostra-se invisível ninguém compreende sua estabilidade invariavelmente produzindo mudanças não é novo não é antigo age sempre em descanso quer tudo e nem precisa de nada completo e buscando algo ama com ardor sem desassossego volta atrás sem arrependimento desfaz a ação mas não a resolução acha sem ter perdido recebe ainda que não precise de nada não deve a ninguém mas paga nunca perdeu ou ganhou mas tem devedores quem é você, Deus? quem sou eu? In: FEMEAR/2014

UNIVERSOS DE COMUNHÃO III

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A   ÁGUA Oh! vós que tendes sede vinde às águas... Nada adianta lavar o corpo... O que está fora não contamina. Batismo em água é afogar-se. Ir por água abaixo até o último velho. Ser despido inteiro até debaixo d’água, como quem cava a morte. Deixar águas passadas e emergir pra vida num banho de graça. Água mole em pedra tanto até que tanto até que pura... Lavar... Levar Em toda nudez vestir-se de nova imagem nascente de ribeiro conduto de água viva, Água da Vida. Nascer de novo nascer pro novo por adoção herdeiro de outro parentesco de novo nome do supremo nome do Pai do Filho e do Espírito Santo.