Um dilema monstruoso

 


Monster (2018) é um longa-metragem que recentemente ganhou visibilidade no Brasil a partir de sua estreia em uma plataforma de streaming por assinatura. Trata-se de um drama sobre um jovem preso em uma casa de detenção do sistema judiciário norte-americano. O filme tem a direção de Anthony Mandler e traz no papel principal o ator Kelvin Harrison Jr.

Aos 17 anos, Steve (Kelvin Harrison Jr.) é um estudante negro de uma escola conceituada de classe média, no Harlem, Nova York, onde, dedica-se a projetos de estudos cinematográficos, almejando seguir essa carreira. Por este prisma, inclusive, o filme traz bons efeitos de metalinguagem.

Steve acaba por se envolver em uma trama protagonizada por outros jovens de seu bairro, que termina no homicídio de um comerciante local e, por isso, é acusado de participante do crime. No entanto, declara-se inocente e, ao longo de todo o filme, que em grande parte se limita a encenar a detenção e o julgamento do acusado, Steve precisa convencer a todos de que é mesmo inocente, sob pena de permanecer o resto da vida na prisão.

A narrativa deflagra reflexões importantes, considerando o sistema judiciário americano, nem sempre imparcial, bem como as realidades do racismo estrutural dos Estados Unidos. É dentro desse contexto que a trajetória do estudante e a realidade complexa em que se encontra detido precisa ser analisada. Além disso, repercute uma discussão bastante atual, a partir dos vários eventos envolvendo questões étnicas, desde a morte violenta de George Floyd, que irromperam na campanha de impacto mundial Black Lives Matter.

O título refere-se a como a promotoria, que representa o Estado americano, considera o jovem negro. E esse qualificativo ecoa na consciência do estudante durante toda a trama, sugerindo que o drama do personagem não acaba ao final da narrativa. Steve terá que conviver para o resto da vida com uma pergunta permanente sobre quem ele é a partir dessa experiência, um jovem negro, um homem ou um monstro. O drama, assim, impõe um dilema ético para o personagem e para cada expectador. E por tratar de questão complexa, não suporta soluções simplistas.

 

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