Hoje acordei sem máscaras. Posso. Estou em casa. E minhas máscaras estão contaminadas, como a de todas e todos. Máscaras sujas se lavam em casa, não é mesmo? Ando adoecida pelo meu país, como um todo, como todas e todos. Deu ruim. Erramos, todas e todos. Eu errei. Fiz escolhas equivocadas e deixei que outras e outros me impusessem as suas. Precisamos de meia volta, todas e todos, sem militarismos, volver, sim, à sanidade, à civilidade. Todas e todos. De todas as etnias, de todas as tribos, de direita, de centro, de esquerda, de cima, de baixo. Mas quem está em baixo sente mais a queda de todos. Uso as marcações de gênero no texto daqui pra frente apenas no masculino. Não porque as mulheres não errem, mas porque nossa raiz menos humana assume uma voz de homem. Cristãos e ateus, acadêmicos e não acadêmicos, teólogos e leigos, estamos com o dedo em riste, cheios de julgamentos. Quem está há mais tempo na história, quem chegou agora. Todos se acham no direito de pensar os desfechos e apontar o dedo, ironicamente ou não, até de brincadeira. Às vezes em nome da paz, inclusive. Precisamos chorar. Todos. Olhar para nós mesmos. Aquele que não tem erros nisso tudo, atire a primeira pedra. Nossos olhares estão plenos de perversidade, indistintamente. Nossas melhores intenções se resumem a tirar algum proveito do momento e salvar a pele. E eu me incluo. Nossa história comum carece de um final mais feliz, só possível, se cada um olhar pra dentro de si e chorar. Chorar nossas mazelas. Talvez assim possamos, todas e todos – retomo as marcações de gênero – chorar até com os que choram. Há muita gente morrendo. E há muitos que até já cheiram mal. Está na hora de encontrar recomeços pessoais, quiçá, coletivos. Quem sabe possamos sair um após o outro, uma após a outra, em silêncio reverente, para encontrar um espaço, onde, curvados sobre nós mesmos, contemplemos um deus-homem escrevendo na areia.


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